Grupo de moradores afirma que decisão do prefeito prioriza os interesses de alguns empresários, sem ouvir a população e seguir as orientações de especialistas em saúde pública
Uma petição pública on-line solicita que o prefeito de Camaquã, Ivo de Lima Ferreira (PSDB), mantenha o comércio fechado por mais tempo, no município. A petição criada nesta sexta-feira (27) é uma resposta à decisão tomada pelo Executivo, após reunião com empresários.
Segundo o autor da petição, Leandro Neutzling Barbosa, especialistas em saúde alertam que o pico de propagação do vírus será no mês de abril, sendo necessário manter o comércio fechado por um período maior.
De acordo com ele, é necessário adotar medidas para achatar a curva de disseminação, com o objetivo de garantir que o sistema de saúde possa atender a todos. “A medida adotada pelo prefeito se deve a pressão de empresários, sem ouvir representantes da Câmara de Vereadores, sem levar em conta dados de especialistas em saúde e a opinião do povo”, lamenta Barbosa, destacando que em enquetes em redes sociais, mais de 60% dos participantes defendem que o comércio permaneça fechado.
O isolamento como medida de evitar a propagação do vírus
Além da petição, um grupo no WhastApp foi criado para defender o isolamento como medida de evitar a propagação do vírus, o fechamento do comércio e buscar formas de ajudar pessoas através da doação de alimentos e produtos de higiene. “Entendemos que a situação financeira da maior parte da população é difícil, pois a economia do país estava complicada, mas agora devemos estabelecer prioridades: a economia ou a vida. Nós escolhemos e defendemos a vida, pois a economia é possível recuperar, a vida não”, afirma Barbosa.
O autor da proposta defende ainda que o governo crie mecanismos para auxiliar pessoas em situação de vulnerabilidade social, bem como cobrar do Estado e União mecanismos para oferecer linhas de créditos as empresas e isenção de impostos.
Projeções
O município de Camaquã possui 66 mil habitantes, considerando um estudo liderado pelo Imperial College de Londres que foi assinado por 50 cientistas, incluindo um grupo relacionado à Organização Mundial da Saúde (OMS), os dados apresentados neste estudo foram dimensionados para Camaquã, respeitando as proporções em porcentagem.
No cenário sem que nenhuma medida de prevenção seja adotada, haverá cerca de 500 mortes no município. Em um cenário onde o isolamento é imposto apenas a idosos, estima-se 20 mortes. Se medidas rigorosas forem adotadas, como isolamento social, poderia haver duas mortes.
Leitos de UTI
Alguns gráficos apontam que 80% da população mundial será infectada. Um cálculo feito por epidemiologistas, estima que 80% dos infectados pela covid-19 não terão sintomas relevantes, mas 15% poderão precisar de tratamento e 5% de internação em uma Unidade de Tratamento Intensivo. Trazendo para a realidade local, se 80% da população de Camaquã for infectada, 5% irão precisar de leitos de UTI, ou seja, serão necessários leitos de UTI para 2.640 pessoas.
No entanto, o Hospital Nossa Senhora Aparecida de Camaquã atende mais de 10 municípios da região, sendo referência para cerca de 200 mil pessoas. Dessa forma, em nossa região ao menos 8 mil pessoas poderão precisar de UTI.
“A campanha para manter o comércio fechado e preservar o isolamento, é uma forma para que esse número de pessoas não precise do sistema de saúde ao mesmo tempo, se for pulverizado, aos poucos, todos nós seremos atendidos e menos pessoas irão morrer por falta de atendimento”, avalia Barbosa, destacando que é uma questão matemática e de escolha de prioridade.